VIOLA ANDREA AMATI, CREMONA, C. 1564

Uma viola que recentemente recebemos aqui na loja, feita pelo luthier brasileiro Paulo Abreu, inspirada na viola construída por Andrea Amati, em 1560, me fez pesquisar e estudar sobre o modelo original e me inspirou a escrever esta matéria. A viola original que, atualmente, pertence ao Museu Nacional da Música, da Universidade de Dakota do Sul – E.U.A, tem muita história para ser contada. Vou tentar passar um pouquinho dela aqui.

Há muitos anos os pesquisadores não tinham informações conclusivas para quem Andrea Amati construiu a viola, pois originalmente era uma viola tenor, e em algum momento de sua história foi reduzida de tamanho, como tentativa de modernizá-la. Mas, isto provocou a consequente perda de parte do lema gravado nas laterais e fundo da viola.

Por muitos anos, os estudiosos procuraram esse lema como o de um determinado indivíduo, mas à luz de outra viola sobrevivente em Paris, com o mesmo lema e armoriais pintados, constataram que provavelmente ela tenha sido feita para o casamento do rei espanhol Felipe II com Isabel de Valois, filha do rei francês Henrique II.

A intenção do casamente era unificar as grandes cortes reais católicas francesa e espanhola, que tinham conflitos por terras, ou seja, guerras expansionistas. Na época, uma das formas de apaziguar os conflitos eram os arranjos matrimoniais. O rei Felipe II propôs o casamento de seu filho, de 14 anos, com alguma filha de Henrique II, da França. A escolhida foi Isabel de Valois, também com 14 anos. Mas, em meio a negociação, Felipe II, recentemente viúvo, resolveu se casar com Isabel, ao invés de desposá-la ao seu filho.

Um detalhe importante, as duas cortes eram muito católicas, como também alguns outros países europeus, e todos brigavam contra a incursão do protestantismo luterano que só aumentava naqueles séculos. Falamos nisso porque a viola feita por Andrea Amati tem um lema pintado nas faixas, escrito em latim, QVO VNICO PROPVGNACVLO STAT STABITQVE RELIGIO, que se traduz como “por este baluarte a religião permanece e permanecerá”.

Os restos do armorial original permanecem parcialmente nas faixas, mas outro detalhe da viola que leva os pesquisadores a achar que ela pertenceu a essa parte da história é a pintura central no fundo, que pode ser o monograma de Marguerite de Valois, cunhada da Isabel de Valois.

O interessante é que, apesar das alterações feitas ao longo dos anos, a viola está em muito bom estado e faz parte, atualmente, de uma linda coleção de raros instrumentos pertencentes à galeria Rawlins do National Music Museum, em Dakato do Sul – EUA.