Bem-vindo à nossa entrevista exclusiva com Ivan Guimarães, renomado luthier do Atelier Musikantiga.
Ivan é um dos principais nomes na arte de construir e restaurar instrumentos musicais, com uma vasta experiência na luteria, especialmente em instrumentos de corda, como violinos e violas. Ao longo desta curta entrevista, ele compartilha seu profundo conhecimento sobre a identificação de violinos antigos, a importância do verniz original, e os desafios e peculiaridades da luteria no Brasil, perguntas que foram feitas pelos nossos seguidores no Instagram! Caso prefira, você pode assistir a entrevista no nosso vídeo acima!
Se você é músico, entusiasta de instrumentos de corda, ou simplesmente curioso sobre o universo da luteria, esta conversa irá oferecer insights valiosos e dicas práticas que só um mestre como Ivan pode proporcionar. Prepare-se para uma viagem ao mundo fascinante da construção de instrumentos musicais e descubra o que torna cada peça única e especial.
Meu nome é Ivan Guimarães, sou do Atelier Musikantiga e estou aqui para responder as perguntas. Então, vamos lá.
Pergunta: Ivan, como saber se o violino é antigo? Quais as características para a identificação?
Tem muitos instrumentos que foram feitos mesmo na década… do começo de 1900 e que têm etiqueta de 1800, e são difíceis de se conseguir definir essa data. Agora, os instrumentos mais atuais, por exemplo, você consegue ver internamente pela madeira, pela oxidação da madeira e pela oxidação do verniz. O verniz é uma das coisas mais importantes, por isso que eu sempre digo que, agradando ou não, o verniz nunca deve ser mudado. Quanto mais original ele for, melhor para identificar o instrumento.
Próxima pergunta: é possível obter bons resultados em instrumentos como violino e viola de madeira nacional?
Depende muito da madeira. Na verdade, a melhor madeira nacional seria o grumixava, que é comprovado cientificamente e acusticamente por dar um resultado similar ao maple. Até porque, independente da madeira, existe o mercado, e o mercado externo não aceita. Se você pegar um instrumento e levar para a Itália com madeiras alternativas que não sejam o maple, eles não reconhecem e não aceitam. Nem o brasileiro aceita direito, pois devido ao clima, a madeira sofre, empena, racha, apodrece, e acusticamente o resultado não é igual. Ela pode ter uma resposta mais lenta de som, pode haver vários fatores.
Qual a coisa mais importante dentro do violino para produzir o som?
A espessura dele. Ele tem que ser muito bem construído, não pode ter muita madeira nem pouca madeira. Ele tem a medida certa, independente da qualidade da madeira. Tem gente que acha que quanto melhor a madeira, melhor será o resultado sonoro, mas nem sempre é assim. Há madeiras simples, e até o próprio Stradivarius fez instrumentos com madeiras simples que tiveram resultados muito legais.
Por que é tão difícil achar viola de tamanho 38?
A questão da viola é que até hoje ainda não foi definido um tamanho padrão para ela. O violino tem uma definição, o violoncelo também, mas a viola veio se transformando com o tempo e dependendo da orquestra e do músico, cada um procurava um tamanho diferente. Na Europa, se usa muito instrumento pequeno. Aqui no Brasil, tem uma mania de usar instrumentos grandes, como 42, 43 e até 44. Mas na Europa, para música de câmara, há muitos instrumentos de 38, 38,5 e 40.
O que fazer quando o espelho do violino abaixar?
Geralmente não é o espelho que abaixa, mas sim o braço que cede. Então a pessoa diz: “Ah, o espelho está baixo, o espelho está baixo.” Se ele descolar do braço, ele pode baixar, mas geralmente é o braço que cede. Às vezes nem descola, internamente há um bloco que segura o braço, laterais, fundo e tampo, e aí cede lá dentro e abaixa o braço.
Rabicho de kevlar realmente é diferente do comum, aquele que já vem no instrumento?
Depende do instrumento. O kevlar tem mais resistência e menos flexibilidade de movimento. Para alguns instrumentos, ele funciona muito bem, para outros, eu acho que não faz tanta diferença.
Muda muito o som essa flexibilidade? Isso faz diferença no som?
Não é só o kevlar, é o conjunto: o cavalete bem assentado, a alma, o instrumento como um todo. Não adianta você ter o kevlar com o cavalete mal posicionado, a própria alma ou o instrumento. Se o instrumento não funcionar, você pode pôr qualquer material que ele não vai responder. O que eu sempre digo é que o instrumento tem que ser bem construído. Por mais simples que seja, se ele for bem construído, as chances de funcionar são muito maiores.
Qual escola de luteria é melhor, Conservatório de Tatuí ou fazer o curso nas escolas italianas?
Olha, eu acho que depende muito das condições da pessoa e do talento. Às vezes a pessoa quer aprender, mas o talento não é suficiente para desenvolver a técnica. Além disso, para estudar fora, na Itália ou em qualquer outra escola, como a francesa ou a americana, é necessário dominar um pouco a língua, pois isso ajuda bastante. Aqui no Brasil, inclusive, temos faculdade de luteria, no sul do país. Acho que há bons caminhos aqui também, e é possível aprender bem.
Gostaria de saber se o tamanho da pestana inferior, se baixa ou alta, influencia no som?
Isso depende um pouco da bombatura do instrumento, do projeto dele. Se ele é mais flat, se é mais bombê, altera um pouco.
O que você acha do modelo de Viola IIzuka?
A Viola IIzuka foi algo como várias épocas, onde surgiram vários modelos de instrumentos. Acho que foi uma moda que hoje está um pouco em desuso. A viola até hoje é um instrumento sem uma definição de padrão de tamanho, então é um instrumento um pouco ingrato. Eu ainda sou a favor do padrão Stradivarius, que acho que são as violas que funcionam.
Agora, para a nossa próxima entrevista Pergunte ao Luthier, Ivan faz a sua pergunta!
Bom, a pergunta é o seguinte, né? Eu falei um pouco sobre a minha geração, que continua e que se perpetua, e espero que a luteria continue no Brasil e no mundo, apesar do mercado estar mudando bastante. A pergunta é: o que as pessoas veem para o futuro da luteria?